Amante da Meia-Noite: Parte I

A chuva caía em finas cortinas sobre a vila adormecida, envolvendo tudo em uma névoa espectral. Amélia apertou o xale ao redor do corpo e olhou para o caminho de pedras que levava à sua nova casa. Um frio estranho percorreu sua espinha. Não era apenas a umidade da noite; era a mesma sensação de quando sonhava com ele.

Desde a adolescência, aquelas visões a perseguiam. No sonho, um homem de olhos prateados e presença avassaladora a observava das sombras, sussurrando seu nome com uma voz que fazia seu coração estremecer. Quando aceitou o trabalho como restauradora de manuscritos na biblioteca da vila de Ravenshire, nunca imaginou que encontraria uma conexão entre sua vida e aqueles sonhos enigmáticos.

Naquela noite, depois de se acomodar na antiga casa que herdara de uma tia distante, Amélia foi atraída por um som ao lado de fora. Atravessando o pequeno jardim, encontrou-se diante do antigo cemitério da vila. Entre os túmulos cobertos de musgo, uma figura emergiu das sombras.

Ezra.

Ele era ainda mais imponente do que nos sonhos. Alto, com traços aristocráticos e olhos que brilhavam como prata líquida sob a luz fraca da lua. A presença dele era um convite e um aviso ao mesmo tempo.

— Você finalmente veio — ele murmurou, aproximando-se lentamente. — Esperei tempo demais.

O coração de Amélia disparou. Ela deveria recuar, questioná-lo, exigir explicações. Mas algo dentro dela a impelia para frente. Havia um destino traçado entre eles, um segredo enterrado no tempo que apenas agora começava a ser desvendado.

E quando Ezra ergueu a mão para tocá-la, Amélia soube que sua vida jamais seria a mesma.

O toque dele era gelado como a brisa da madrugada, mas quando os dedos roçaram sua pele, uma corrente elétrica percorreu seu corpo, como se algo despertasse dentro dela. Ezra franziu a testa, os olhos faiscando em surpresa.

— Você sente, não sente? — sua voz era um sussurro grave, carregado de algo antigo e perigoso.

Amélia engoliu em seco. Sua mente gritava que corresse, mas seu corpo parecia fincado no chão. Ela assentiu, incapaz de negar o que seu coração já sabia.

— O que… o que você é? — a pergunta escapou de seus lábios antes que pudesse conter.

Ezra sorriu, um sorriso torto, quase triste.

— Alguém que já perdeu você uma vez. E que não permitirá que isso aconteça de novo.

O vento soprou com força, e Amélia sentiu a energia ao redor se condensar. A névoa girou ao redor deles, e por um instante, teve a sensação de estar entre dois mundos. Algo dentro dela gritava reconhecimento. Como se aquela não fosse a primeira vez que seus destinos se entrelaçavam.

Ezra estendeu a mão.

— Venha comigo. Há muito que preciso te contar.

Amélia hesitou. Seu lado racional gritava para que se afastasse. Mas o instinto? Esse a fazia querer segui-lo sem questionar.

E ela sabia que sua escolha mudaria tudo.

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