Amante da Meia-Noite: Parte II

Amélia seguiu Ezra até uma clareira escondida atrás do cemitério. O ar ali parecia mais denso, carregado de algo invisível e antigo. As árvores balançavam suavemente, como se reconhecessem sua presença.

— Há muito tempo — Ezra começou, sua voz um eco na escuridão —, você e eu estávamos ligados de uma forma que vai além desta vida.

Amélia sentiu um arrepio subir por sua espinha. Ezra ergueu a mão, e uma brisa forte levantou as folhas secas ao redor deles. Uma imagem se formou entre os redemoinhos de vento: uma mulher com cabelos longos e escuros, vestindo trajes de outra época, segurando a mão de um homem idêntico a Ezra.

— Eu te conhecia — Amélia sussurrou, fascinada.

— Não apenas me conhecia — Ezra disse, seus olhos prateados brilhando. — Você me amava. E morreu por mim.

O peso das palavras dele caiu sobre Amélia como um trovão. Ela sentiu um aperto no peito, como se a dor daquela vida passada ainda estivesse dentro dela, esperando para ser lembrada.

Ezra se aproximou mais um passo, sua mão segurando a dela com firmeza.

— O tempo nos separou antes. Mas desta vez, eu não deixarei isso acontecer. Você confia em mim, Amélia?

Ela olhou nos olhos dele, e algo profundo dentro de si sussurrou a resposta antes mesmo que seus lábios se movessem.

— Sim.

Ezra fechou os olhos e suspirou, como se aquelas palavras fossem um bálsamo há muito esperado. Em um movimento suave, ele a puxou para perto, envolvendo-a em um abraço firme. Amélia sentiu-se segura, embora soubesse que estava prestes a mergulhar em algo desconhecido e perigoso.

— Então venha — ele disse, guiando-a para mais fundo na clareira.

No centro, uma pedra antiga, coberta por runas desconhecidas, pulsava com uma luz azulada. Amélia sentiu uma vibração sob seus pés, como se o próprio solo reconhecesse sua presença.

— Este é o portal — Ezra explicou. — O véu entre os mundos está mais fraco aqui. Preciso te mostrar o que aconteceu antes… e o que está para acontecer.

O coração de Amélia batia descompassado. Cada fibra de seu ser dizia que aquilo era loucura. Mas sua alma gritava que era a verdade. Ela estendeu a mão para a pedra, e ao tocá-la, um raio de luz explodiu ao redor deles.

De repente, não estavam mais na clareira. Amélia viu-se em uma grande sala iluminada por tochas, vestida com roupas que não reconhecia. Ezra, ao seu lado, usava um traje que remetia a tempos esquecidos. O eco de vozes e risadas preenchia o ar, e ao olhar ao redor, seu coração apertou.

Ela conhecia aquele lugar. Já estivera ali antes.

— Você está lembrando — Ezra murmurou, observando-a com intensidade.

E então, uma figura surgiu do outro lado da sala. Um homem alto, de olhos sombrios e um sorriso cruel.

— Finalmente, a alma dela retorna para onde pertence — ele disse.

Antes que Amélia pudesse reagir, o homem ergueu a mão e um frio intenso tomou conta do ambiente. A luz das tochas tremulou, sombras cresceram e Ezra posicionou-se à sua frente, como um escudo.

— Você não vai tocá-la desta vez, Lucian — Ezra rosnou.

Lucian sorriu, os olhos brilhando com malícia.

— Vamos ver se consegue impedi-lo, como falhou antes.

A atmosfera se tornou densa, como se o tempo estivesse prestes a se partir. Amélia sentiu sua respiração se acelerar, enquanto memórias esquecidas lutavam para emergir.

E então, tudo ficou escuro.

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