O silêncio que se seguiu era quase absoluto, como se o próprio tempo tivesse prendido a respiração. Quando Amélia abriu os olhos, a sala desaparecera. Em seu lugar, havia um bosque sereno, banhado por uma luz dourada e suave, como o entardecer de um dia esquecido.
Ela cambaleou um passo à frente, tentando entender o que era real. Ezra estava ao seu lado, o rosto tenso, mas os olhos ainda fixos nela — como se sua presença fosse a única âncora que o mantinha firme naquele mundo instável.
— Onde estamos agora? — ela sussurrou, tocando a casca de uma árvore que parecia pulsar como um coração vivo.
— Na memória do que fomos — ele respondeu, em voz baixa. — Este lugar… é um eco do passado. Está se revelando porque sua alma começou a lembrar.
Amélia se virou para ele, a mente girando com perguntas, mas antes que pudesse formular qualquer uma, ouviu um som suave à distância: sinos. Pequenos, como os de vento, balançando entre galhos invisíveis.
Ezra franziu o cenho.
— Estamos sendo observados.
— Por Lucian?
— Talvez… — ele hesitou. — Ou talvez por algo que ainda não entendeu qual papel você tem neste ciclo.
Amélia apertou o xale ao redor dos ombros, não por frio, mas pela súbita sensação de estar diante de algo vasto e antigo demais para compreender de uma só vez.
— Ezra… se tudo isso é verdade, por que agora? Por que minha mente só está acessando essas memórias agora?
Ele a encarou por um longo momento, como se medisse o que poderia ou deveria dizer.
— Porque a escolha está chegando, Amélia. E ela só pode ser feita por quem se lembra de tudo.
Ela sentiu uma pontada no peito. O que quer que estivesse por vir, estava mais próximo do que imaginava.
De repente, uma figura apareceu entre as árvores. Não era Lucian, nem alguém que ela conhecesse. Uma mulher. Alta, cabelos brancos como neve, olhos azuis profundos, e uma túnica que parecia feita da própria névoa.
— Amélia de Ravenshire — disse a mulher, sua voz ressoando como um cântico antigo. — A roda girou mais uma vez. Você está pronta para conhecer a verdade?
Ezra ficou entre as duas, protetor. Mas a mulher ergueu a mão em paz.
— Não vim para feri-la — disse ela. — Vim para guiá-la ao próximo limiar. E você sabe disso, Ezra. Este momento pertence a ela.
Amélia olhou para ele, e ele assentiu com relutância.
— Eu estarei perto. Sempre.
Com passos lentos, Amélia se aproximou da mulher. Ela não sabia quem era, nem o que viria, mas dentro de si, sentia algo pulsar — como um antigo tambor chamando de volta para casa.
— Então venha, criança do tempo — disse a mulher. — Há páginas que ainda precisam ser lidas, e sua alma… é a única que pode compreendê-las.
E assim, atravessaram juntas a neblina dourada, rumo ao desconhecido.

Olá, sou o Lucas. Espero que goste do conteúdo preparado especialmente para você.