O véu da névoa se ergueu diante delas como uma cortina sendo recolhida. Amélia e a mulher dos cabelos brancos caminharam em silêncio por uma trilha que parecia se formar sob seus pés a cada passo. O tempo ali não obedecia às regras do mundo real. Havia uma quietude tão profunda que até os pensamentos pareciam ecoar.
— Este lugar… — Amélia murmurou. — Não é uma lembrança. É algo além, não é?
A mulher assentiu, os olhos fixos à frente.
— Aqui repousa o que foi esquecido. E o que jamais deveria ter sido. Muitos chamam de Entrelinhas. É onde as verdades não ditas esperam para serem compreendidas.
Amélia sentiu o peso daquelas palavras. A sensação de que havia muito mais em jogo do que ela entendera até agora.
Pararam diante de uma estrutura feita de pedra e vidro envelhecido, coberta por trepadeiras e musgo. Era uma biblioteca. Não como a de Ravenshire, mas antiga de um jeito que escapava à lógica. As paredes pareciam sussurrar histórias, e o ar vibrava com lembranças.
— Você guarda perguntas no coração, Amélia. Mas é aqui que encontrará as respostas — disse a mulher, empurrando as portas pesadas.
Lá dentro, a luz era suave e viva, dançando pelas prateleiras como poeira encantada. Os livros pareciam pulsar, como se tivessem corações silenciosos batendo sob as capas.
A mulher se aproximou de uma estante ao fundo e puxou um volume encadernado em couro claro, sem título. Entregou-o a Amélia com cuidado.
— Este livro só se abre para quem viveu suas páginas.
Ao tocá-lo, Amélia sentiu um calor gentil irradiar de suas mãos. O livro se abriu devagar, revelando palavras escritas com tinta dourada — e, à medida que lia, flashes tomavam sua mente: o som de sinos antigos, o perfume de flores esquecidas, o riso de crianças correndo entre colinas… e o fim.
Ela viu o momento em que tudo se partiu. Uma escolha feita sob ameaça. Um sacrifício para preservar algo maior que si mesma. Ezra tentando protegê-la, e Lucian… ferido, mas não vencido.
— Ele não era sempre assim — a mulher disse, como se lesse seus pensamentos. — Lucian também foi um guardião da memória, como Ezra. Mas se perdeu ao tentar mudar o que estava escrito.
— E eu? — Amélia perguntou. — Qual é o meu papel nisso tudo?
A mulher tocou o centro do livro, onde havia um símbolo que pulsava em luz: uma estrela partida ao meio.
— Você é a guardiã da escolha. A alma que retorna quando os caminhos se cruzam novamente. Só você pode fechar o ciclo — ela respondeu, com suavidade. — Mas o fim não será definido pelo que foi. Será moldado pelo que você decidir agora.
Antes que Amélia pudesse perguntar mais, um estrondo ecoou pela biblioteca. A luz oscilou, e uma sombra atravessou o vitral no alto da cúpula.
Ezra irrompeu pelas portas com o rosto tenso.
— Ele está vindo — disse, a voz grave. — Lucian sabe onde estamos.
A mulher assentiu, com serenidade. Ela se virou para Amélia, os olhos brilhando como gelo e céu ao mesmo tempo.
— Está na hora. Leve o livro. Leve o que você aprendeu. O próximo encontro decidirá o que deve permanecer… e o que será esquecido para sempre.
Ezra estendeu a mão para Amélia, como fizera naquela primeira noite. Mas agora, ela não hesitou.
Com o livro apertado junto ao peito, Amélia o seguiu, enquanto a biblioteca desaparecia atrás deles como um sonho ao amanhecer.
Lá fora, a névoa girava como uma maré viva. E no centro da clareira, Lucian os aguardava — os olhos sombrios como a noite, mas desta vez… havia tristeza neles também.
E Amélia soube: a última escolha se aproximava.
E ela estava pronta para fazer o que ninguém fizera antes.

Olá, sou o Lucas. Espero que goste do conteúdo preparado especialmente para você.