Amante da Meia-Noite: Parte V (Final)

A clareira estava silenciosa como um segredo à beira de ser revelado.

Lucian os aguardava no centro, envolto por uma névoa que se agitava ao seu redor como se tivesse vontade própria. Os olhos escuros cravados em Amélia não carregavam mais apenas ameaça — mas também uma tristeza antiga, cansada. Algo quebrado.

Ezra ficou entre eles novamente, como sempre fizera. Mas Amélia deu um passo à frente.

— Chega de repetir o que já foi vivido — disse ela, sua voz firme apesar do tremor nas mãos. — Eu me lembro agora. De tudo.

Lucian não respondeu de imediato. Quando o fez, sua voz era baixa, quase um sussurro levado pelo vento.

— Então você sabe o que custou. E o que está em jogo.

Ela assentiu.

— Sim. E também sei que ninguém venceu naquela noite. Perdemos todos. Por medo, por orgulho… por tentar controlar o tempo em vez de compreendê-lo.

Ezra olhou para ela, e nos olhos prateados havia algo novo: esperança.

Amélia abriu o livro que trouxera consigo. As páginas antes douradas agora estavam em branco. Mas ela compreendia o que aquilo significava. O ciclo não se encerrava com luta, mas com escolha. Com liberdade.

Ela estendeu o livro a Lucian.

— Você queria mudar o que foi escrito. Agora tem a chance de reescrever — ela disse. — Mas não sozinho. Nem com vingança. Com verdade.

Lucian olhou para o livro por um longo instante. Quando o tocou, as sombras ao seu redor começaram a se dissipar. Não sumiram por completo, mas suavizaram, como nuvens abrindo passagem para o amanhecer.

— Eu me esqueci… de quem eu era — ele murmurou. — E do que ela significava para mim.

Ezra deu um passo ao lado de Amélia. Pela primeira vez, os três estavam juntos sem ameaça entre eles.

A luz começou a surgir da terra, como se a clareira despertasse de um sono milenar. As árvores silenciaram, o ar se aqueceu. O tempo — ou o que quer que aquilo fosse — parecia respirar com eles.

Então, a mulher de cabelos brancos apareceu mais uma vez, caminhando entre a névoa como se já soubesse o desfecho.

— O ciclo se fecha não com esquecimento, mas com compreensão — disse ela. — Vocês foram fragmentos de uma história quebrada. Agora, ela volta a ser inteira.

Ela ergueu a mão, e uma brisa suave soprou pelas páginas do livro. Palavras começaram a surgir, escritas pela própria luz: uma nova história, livre das amarras do passado, livre da repetição.

Lucian fechou os olhos e, num gesto sereno, deu um passo para trás, deixando a névoa envolvê-lo. Não havia punição. Apenas descanso.

Ezra olhou para Amélia, e o sorriso que lhe ofereceu era diferente de todos os outros: tranquilo. Verdadeiro.

— Você fez o que nenhum de nós conseguiu — ele disse. — Escolheu o agora.

Amélia respirou fundo. O livro se fechou em suas mãos, leve como se nunca tivesse carregado dor alguma. A clareira começava a desaparecer, dissolvendo-se como um sonho ao amanhecer.

E então ela estava de volta.

A biblioteca de Ravenshire a recebia com seu cheiro de madeira antiga e tinta desbotada. O livro repousava diante dela, sobre a mesa, fechado. O céu lá fora estava limpo, e a vila silenciosa como sempre.

Mas dentro dela, tudo havia mudado.

Ela olhou pela janela e, por um momento, pensou ver Ezra entre as árvores, observando. Talvez fosse apenas a luz, ou talvez ele estivesse mesmo ali — como promessa de que o que é verdadeiro nunca se desfaz por completo.

Amélia sorriu.

E voltou a escrever.

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top